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quarta-feira, 4 de abril de 2012

APELIDOS

Aracati no Ceará goza a fama de terra dos apelidos. Qualquer individuo dali ou que ali chega recebe alcunha engraçada ou pejorativa. Penso que Teresina não fica atrás. Gente da alta-roda e da ralé toma designação especial nesta cidade criada por José Antônio Saraiva. Entre os operários antigos anotem-se o Zé de Urso, o João Casaquinha, o Pedro Cuscuz, o Firmino Borboleta, o Zé Paletó, o Mané Catita, o Benedito Faiô, o Antônio Rapadura, o João Bebé, e tantos outros entre marceneiros, pedreiros, alfaiates, cozinheiros, tão conhecidos desse cidadão amigo, testemunha ocular da vida social de Teresina, chamado ANTONIO SALES, o popular Antônio Pintinho, ainda hoje, do alto dos seus quase cem anos de idade, passeando, lampeiro e engravatado, as ruas da cidade. Foi meu dedicado auxiliar em antigo órgão controlador de preços, sério e honesto. Diariamente bole com as mulatas à custa de muito tutano de osso de boi, que ele come lambendo os beiços.

Políticos, médicos, engenheiros, empresários e demais figurões da fauna ilustre têm sido batizados com denominações da sabedoria popular ligados à personalidades de cada qual. O ex-governador Eurípedes de Aguiar, de físico avantajado, grandão, era conhecido como URSO BRANCO, ou MACACÃO DOS MATÕES, pois nasceu nesta cidade maranhense. Pelo nome de BODE MELADO se denominava Leônidas Melo, governante do Piauí por mais de dez anos. O desembargador Adalberto Correia Lima teve o apelido de CASCAVEL DE QUATRO VENTAS. O brilhante jornalista e consagrado poeta Júlio Martins Vieira ficava brabo quando lhe chamavam JÚLIO MUCURA. Matias Olímpio derribava os adversários fuxicando por baixo, como se dizia. E o povo o intitulou CUPIM BRANCO.

Lá um dia, vinda das lonjuras do extremo sul do Piauí, chegou a Teresina Dona Maria, viúva, acompanhada de uns quatro ou cinco rebentos em idade de escola. A nova habitante trazia uns dinheirinhos das propriedades e gados vendidos, meação e herança do marido que ela enterrou sem chifre. Alugou casa na zona norte, em cuja frente, na calçada, havia um pé de oiti. O povo logo passou a conhecê-la como DONA MARIA DO OITI. O fruto do oitizeiro de Dona Maria era bem doce, bom de paladar, e os galhofeiros encompridavam o apelido para DONA MARIA DO OITI GOSTOSO. Revoltada, a mulher mandou cortar a árvore. O povo não deixou por menos e deu-lhe a denominação de DONA MARIA DO TOCO. A viúva, inconformada, deliberou arrancar o tronco restante do oitizeiro. Passou a ser chamada de DONA MARIA DO BURACO. Doida de raiva, convocou pedreiro, fez que se entupisse o buraco, cimentando a cobertura. E a verve popular botou-lhe nova alcunha, DONA MARIA DO BURACO TAMPADO. A pobre mulher encontrou a solução: arrumou os tréns, fez os baús, agarrou os meninos e foi-se embora para os seus cafundós onde o diabo perdeu as esporas.


A. Tito Filho, 27/04/1991, Jornal O Dia, p. 4

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